ELAINE EIGER
FOTOGRAFIA
Menu
Trabalhos
Arquitetura
Abstrações
City Scapes
Street Photography
Outras Viagens
Ensaios
Close Strangers
Tokyo Blue
Shinkansen
O último dia [foto-poema]
Vídeos
Elaine Eiger
Contato
Mais
o último dia
[foto-poema]
A pálida luz banha a escada naquela tarde inerte, como se não quisesse
deixar nenhum brilho.
Mas as sombras projetam-se impiedosas como
lanças que apontam para a dor daquele momento.
Sobe devagar cada degrau, o cão a acompanhar cabisbaixo.
Jazem sobre o móvel gasto sem mais nenhum sentido.
Enfileiradas,
como a proteger a si mesmas... São ainda fortes!
Cinco mil anos não se perdem assim.
A família que nunca existiu parece mais forte do que jamais havia sido.
Afinal, com o vínculo desfeito, cada um pode finalmente... ser.
Com passos inevitáveis penetra fundo nas entranhas claustrofóbicas da
vida que nunca havia sido.
A morte sim, ali fazia sentido.
As marcas parecem quadros vivos: as imagens enfim podem existir.
Palimpsestos em meio a profundas rachaduras, feridas cruas de dores infindas.
No chacra da outrora vida, repousa agora a urna do corpo último,
com a luz a lhe perscrutar a alma ausente.
O jornal como única companhia, afinal sempre fora assim, mesmo em vida.
Ossos moídos pontiagudos em meio às cinzas inofensivas, mortas.
Os restos a espelhar a vida que é tanta morte agora.
O cão que sabe que nunca mais haverá depois, assiste triste. Chora, só ele.
No último gesto, uma gota de afeto.
Pensa que era mesmo ali que o pai gostaria de ficar a morte inteira.
Apressado, sai espalhando a morte que insiste em não terminar.
Fecha o portão. O cão atrás, saltando para a vida que começa agora.
[novembro de 2015, seis anos depois]
Crie seu site grátis!
Este site foi criado com Webnode.
Crie um grátis para você também!
Comece agora